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Discursos

Discurso do Dr. Luis Mares Guia como presidente do CNPq.
Brasília, 13 de Setembro de 1991


Marcos Luis dos Mares Guia

Senhoras e Senhores:

Recebi com surpresa, há cerca de 15 dias, na Universidade da Califórnia, como bolsista do Rhae, o convite para dirigir o CNPq.

Sem conhecer os meandros, mas conhecendo os grandes contornos, aceitei o trabalho e o desafio, muito em função do estado do mundo em que vivemos, crise por que passamos e das fantásticas mudanças a que assistimos, e de que também somos protagonistas, neste fim de século.

Sinto-me muito honrado em assumir a posição que brasileiros eminentes ocuparam com brilho e dedicação e devo confessar - a posição me agrada!

Meu agrado não deriva do eventual poder, mas da síntese da minha experiência profissional como professor e cientista universitário, em paralelo com a vivencia de desenvolvimento de tecnologia pioneira na empresa privada.

Entendo que o CNPq deve ser um organismo voltado à promoção e a serviço do Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico do nosso país; a harmonia de seu funcionamento interno e de seu entrosamento externo são requisitos básicos para o cumprimento de seus objetivos maiores, que devem ser muito bem entendidos por todos que nele serviremos.

Harmonia interna manifesta-se por mecanismos de cooperatividade, notável fenômeno do microcosmo das Bio-Moléculas cujo resultado é maior que a soma simples das partes.

Nenhum organismo é perfeito: se assim fora, teríamos a vida eterna. Há que lutar por níveis sempre mais altos de desempenho, para o que treinamento especifico se faz continuamente necessário. Serviços básicos existem que ainda apresentam problemas que devem ser reavaliados para remover bloqueios.

Vejo o CNPq com um depósito das esperanças do cientista do país, fonte e inspiração para Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico. A confiança daí derivada tem, no entanto, prazo e limites, não nos iludamos. Nosso esforço deve ser dirigido para reforçá-la e a ela corresponder.

O agente do Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico é o pesquisador: tudo devemos fazer para tornar o seu trabalho mais eficaz e profícuo, seja na pesquisa básica, seja no desenvolvimento tecnológico.

Não posso, dado o exíguo prazo de que dispuz, apresentar-lhes planos; contudo, trago idéias geradoras de planos futuros, que exponho a seguir, como metas de minha gestão.

Uma instituição do porte do CNPq deve dispor de um plano estratégico, responsabilidade básico do presidente. O plano estratégico, estrutura dinâmica por excelência, devera estar integrado às diretrizes da SCT e às diretrizes gerais do Governo Nacional.

Pretendo exercer uma administração harmônica, como o fim de otimizar o atendimento ao Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico, fundamentado na estrutura hierárquica do CNPq. Isto inclue a criação de projetos induzidos com base em estudos gerados no CNPq e fundamentados nas diretrizes superiores do órgão.

Creio ser fundamental aperfeiçoar e implementar um sistema de pós-doutorado com bolsas da ordem de 4 anos, no país e exterior combinados que dará aos pós-doutores condição de especialização profissional, independência intelectual, experiência cientifica e tempo para fazerem suas opções de emprego ou outras conseqüências, daremos tremendo impulso à maquina de pesquisa do país, sôfrega no presente.

Não entendo que possamos atingir competitividade e qualidade industrial no mundo de hoje sem que nossos pesquisadores, os de nível 1-A pelo menos, possam dispor de recursos de comunicação instantânea com seus pares e com bancos de dados nacionais e internacionais. Da mesma maneira, é ridículo enfrentar os desafios a que o país se propõe sem que nossas bibliotecas tenham recursos de acesso pronto aos mesmos bancos.

Pretendo incrementar a cooperação internacional com base em programas ou projetos de interesse mutuo, envolvendo também as FAP`s dos Estados.

Deveremos implementar com as FAP`s Sistema de Analise Conjunto de Projetos, visando custeio combinado, integrando atividades.

Pretendo que trabalhemos em sintonia e cooperação com a FINEP, CAPES, BNDES, Fundação Banco do Brasil e outros, na busca dos objetivos do Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico.

Desejo espreitar relações com as pró-reitorias de pesquisa das universidade e com as sociedades cientificas especificas, visando a promoção de programas e projetos.

É objetivo central de minha ação no CNPq desenvolver os métodos e processos para chegar ao efetivo impulso ao desenvolvimento tecnológico, pela cooperação com as empresas, auxiliando-as, estimulando-as na busca da competitividade e da qualidade.

Tantas idéias exigirão mais recursos. É nossa função organizar os projetos, programa e planos que sejam convincentes o bastante para justificar acréscimos ao nosso orçamento e ao fluxo de caixa.

A preocupação com recursos escassos não é apanágio nosso. Há pouco, a Dra. Bernardine Healy, Diretora dos NITT nos USA, dizia de sua insatisfação em dispor de recursos para atender somente a 21000 auxílios por ano, que correspondem a cerca de 20% da demanda provável.

Lá, como cá, o cientista moderno tem que se preocupar muito com sua criatividade e bastante com a contabilidade.

O orçamento atual do CNPq, da ordem de 220 milhões de dólares, pode ser aquilatado por comparação com grandeza mais perceptível.

Um quilometro de estada asfaltada, de duas pistas e bom acostamento custa cerca de US$ 500 mil. Então, nosso orçamento anual pode ser traduzido em cerca de 420 km deste tipo de estrada. Esta é a distancia suficiente para se chegar de Belo Horizonte a Montes Claros, mas insuficiente para se chegar ao Rio ou Brasília.

A distancia em quilômetros não é desprezível, nem seu valor, mas ambos são pequenos quando se considera o que este país deve ainda fazer para se desenvolver.

Devemos desenvolver todo esforço para que a criação dos nossos cientistas gere propriedade intelectual – patentes – que cheguem ao nosso setor produtivo e mercado.

Termino esta breve exposição de idéias básicas com algumas observações mais especificas.

Agradeço ao Professor Gerhard Jacob pela fidalguia com que me recebeu e me conduziu nos passos iniciais aqui. Devo a ele receber o CNPq com as posições de confiança em disponibilidade, mesmo que de modo informal. Não trouxe listas; pretendo conduzir uma administração profissional; o afinamento de objetivos definira a ocupação destas posições. Confirmo, desde já, os diretores Lindolpho Carvalho Dias e Jorge Almeida Guimarães.

Fiquei sensibilizado pelo documento da Associação dos Servidores do CNPq; é importante iniciar uma gestão de organismo tão complexo no qual se depositam tantas esperanças, com os espíritos desarmados.

Repito que não cheguei aqui – fazendo analogias muitos antigas – nem com a resignação do cordeiro sacrificial, nem com o orgulho da águia que paira sobre o lago, escolhe a presa e a agarra, mas com a tranqüilidade do timoneiro que conhece seu destino, respeita as procelas, mas não as teme.

Espero corresponder à confiança claramente manifestada pelo senhor Secretario da Ciência e Tecnologia, pelas comunidades cientificas e tecnológicas e pela casa.

Que Deus nos ilumine e guie.



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