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Discursos

Discurso de posse do Dr. Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho como presidente do CNPq

Brasília, 27 de janeiro de 2010


Carlos Alberto Aragão

O ano de 1951 representa um marco na história da ciência e da tecnologia brasileiras. Com a criação do Conselho Nacional de Pesquisas, nome de infância e origem da sigla do atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, a pesquisa cientifica e tecnológica passou a ser considerada assunto de Estado e teve início seu processo de institucionalização.

Desde então, a atuação do CNPq, juntamente com a da CAPES, também criada em 1951, contribuiu decisivamente para a formação de pesquisadores nas mais diversas áreas do conhecimento e para a criação, melhoria e expansão da infra-estrutura de pesquisa, tarefas para as quais, a partir de 1967, também pôde contar com a colaboração da FINEP.

O CNPq, ao longo de sua trajetória, tornou-se sinônimo de apoio à pesquisa e ao pesquisador e foi fundamental para que o Brasil pudesse contar com mais de 150.000 pesquisadores, formar cerca de 10.000 doutores por ano, publicar 2,1% dos artigos científicos em revistas indexadas e atingir o 13º lugar na produção global do conhecimento.

Graças aos progressos na institucionalização da pesquisa iniciados com a criação do CNPq, o Brasil tem hoje duas agências de fomento para CT&I (CNPq e FINEP), um Ministério da Ciência e Tecnologia (que neste ano comemora seu jubileu de prata), fundos setoriais que compõem um FNDCT renovado, programas de bolsas e de apoio à pesquisa, tanto no CNPq, quanto na CAPES, parcerias com Secretarias de Ciência e Tecnologia, com Fundações de Amparo à Pesquisa, com outros ministérios e com empresas, enfim, toda uma gama de organizações, instrumentos e ações que se articulam em um Plano de Ação para Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI).

Esse plano possui quatro grandes eixos:

i) consolidação, aprimoramento e expansão do
Sistema Nacional de CT&I;
ii) inovação tecnológica nas empresas;
iii) P, D & I em áreas estratégicas;
iv) CT&I para desenvolvimento social.


Qualquer dessas linhas requer forte atuação do CNPq, tanto para formar recursos humanos, como para apoiar a criação e o aprofundamento de linhas de pesquisa. Assim, o avanço em cada um dos eixos do plano deverá ser impulsionado por um crescimento constante do CNPq: crescimento em orçamento; crescimento em investimentos e crescimento em qualidade.

Apurar a qualidade implica em avaliações ágeis e efetivas, que estimulem a criatividade e a inovação, em apoiar o mérito de forma atenta, rápida, sem burocracia, em ser capaz de apostar em projetos ousados, que se proponham a desbravar novas fronteiras e a dar um salto de qualidade, para tornar a C,T&I brasileiras mais competitivas em nível internacional. Já não nos basta a competência; precisamos criar, inovar, para eventualmente liderar. É certo que, nos quase 60 anos de história do CNPq vimos o País tornar-se proficiente em ciência, gerar tecnologias de ponta e iniciar-se na inovação, em busca de novos produtos, processos e serviços que permitam que as empresas brasileiras se diferenciem no cenário internacional. Já logramos liderança em certas tecnologias: nos biocombustíveis, nas técnicas de apoio à agropecuária, na prospecção de petróleo e gás em águas profundas (vale lembrar que o pré-sal foi precedido da pré-pimenta da C,T&I), na industria aeronáutica. No entanto, faltam-nos liderança e protagonismo na ciência, é ainda limitado o número de nossas tecnologias de sucesso, e engatinhamos na inovação.

O CNPq é peça essencial para enfrentarmos esses desafios: com seus INCT; PRONEX; PPP; Editais Universais; programas de bolsas; programas de intercâmbio nacionais e internacionais; programa de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas, voltado para a inovação; programa Casadinho, que se apóia em parcerias para superar as desigualdades regionais. Todos esses programas devem ser ampliados e aprimorados: calendários bem definidos, desburocratização, agilidade e qualidade são metas a serem alcançadas em todos eles.

O Brasil vive um momento muito especial: o Cristo Redentor decola, possivelmente movido a bioetanol, em capa de revista; economistas, cientistas políticos e a imprensa internacional o reconhecem como um país emergente que, finalmente, decidiu emergir. O País tornou-se protagonista nas discussões do clima, da economia global, das grandes questões internacionais. É visto como país de oportunidade, “bola da vez” e eventual “potência verde”.

Nossos avanços exigem mais avanços, pois há muito que resgatar e muito para fazer. A 4ª Conferência Nacional de CT&I, convocada por decreto do Presidente Lula, a ocorrer de 26 a 28 de maio de 2010, será um momento precioso para nos preparamos para o novo papel que se espera do Brasil. Nela, vai-se discutir uma política de Estado para CT&I que nos leve a um desenvolvimento sustentável, desenvolvimento que visa a compatibilizar crescimento econômico com preocupações ambientais e sociais. Não há desenvolvimento verdadeiramente sustentável sem ciência, tecnologia e inovação competitivas, e sem educação de qualidade desde a infância.

A política de Estado que almejamos tem suas origens em 1951, na criação do CNPq. Essa política vai requerer forte atuação do CNPq nos próximos anos, ajudando a formar mais cientistas e engenheiros, e apoiando pesquisa inovadora, criativa, que avance as fronteiras do conhecimento e da técnica, e promovendo a inovação que nos trará riqueza, renda e bem-estar social, contribuindo assim para um País mais próspero, mais justo, menos desigual.

O desafio é grande, mas só nos cabe avançar; e é sempre bom lembrar as palavras do poeta Antonio Machado: “Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”.

Meus agradecimentos a todos por estarem aqui. Estou certo de que caminharemos unidos.



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